quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A menina da toalhinha (Fazenda do Peixe Bravo)

Esta é uma das diversas histórias que vovó escreveu em seu caderno de recordações:


A MENINA DA TOALHINHA (Fazenda do Peixe Bravo)

"Todos já a tinham visto na velha fazenda. Assim, minha mãe, cuja imaginação era fértil, contava.
Andava correndo, pelos longos corredores, pela sala de jantar, onde muitos a viam, perto do pote d'água.
Parecia ter roldanas nos pés, tão de leve caminhava.
Ninguém jamais a vira de frente, era sempre pelas costas, com uma pequena e alva toalha jogada na cabeça.
Uma luz estranha a iluminava.
Ninguém lhe tinha medo. Era familiar, chamavam-lhe "a menina da toalhinha".
A única pessoa na fazenda que ainda não tinha tido o privilégio de vê-la era "Didinha Aninha", velha agregada, que vivia a cerzir roupas e a acompanhar as moças nos passeios pelos campos. Morria de inveja e até de um certo despeito, por ser a exceção das aparições.
E um dia afinal, "Didinha Aninha" acordou com um grande clarão no quarto.
Extremunhada, não divisou logo o que era aquilo, mas firmando os olhos percebeu nitidamente a visão tão sonhada - ali estava junto de seu leito, de frente sorrindo - "a menina da toalhinha".
No primeiro momento ficou atordoada.
Depois mais calma, perguntou-lhe quem era, e porque andava assim pela fazenda.
Ela respondeu-lhe, que havia sido escrava, e como tal, roubara um dedal de ouro da antiga "Sinhá", razão pela qual andava penando. Morrera aos 13 anos, sem confessar esse pecado.
Pediu-lhe que mandasse avaliar o preço de um dedal desse metal, e o dinheiro assim obtido, empregasse em missas por sua alma.
"Dindinha Aninha" apressou-se em cumprir o que ela pedira, e desde então, ninguém mais a viu."